Sistema ganha revisão de normas e, incentivado pelo Minha Casa, Minha Vida, rompe o preconceito gerado pelos “pombais” do extinto BNH
Por: Altair Santos
Surgido no pós-guerra, a fim de viabilizar a reconstrução da Europa, o sistema de Coordenação Modular tornou-se agente importante para racionalizar e industrializar a construção civil. No Brasil, o modelo esteve em alta nos anos 1970 e 1980, por conta dos estímulos recebidos do extinto Banco Nacional de Habitação (BNH), mas depois quase caiu em desuso. Agora, começa a ser redescoberto pelo setor, sobretudo pela sua capacidade de reduzir custos, otimizar o uso de matéria-prima, aumentar a produtividade e diminuir desperdícios.
Genericamente, Coordenação Modular pode ser definida como um sistema que racionaliza a construção. Ele proporciona a aplicação eficiente de recursos para viabilizar uma obra, integrando toda a cadeia produtiva. Compreende desde a normalização, certificação e projeto dos componentes, passando pela seleção da matéria-prima utilizada para sua fabricação, pelos projetos arquitetônicos, estruturais e complementares, até a montagem e manutenção das edificações.
Os novos conceitos que norteiam a construção civil também geraram uma onda de pesquisas em torno do sistema de Coordenação Modular, além da revisão das normas que o regem, como a ABNT NBR 15873:2010, que entrou em vigor em outubro de 2010 e condensou cerca de 25 outras normas que tratavam do modelo. A partir dela, os processos de fabricação e de construção industrial passam a adotar medida única de 10 centímetros, eliminando a variação na fabricação de componentes.
É consenso no setor de que a padronização vai incentivar a construção civil a adotar a Coordenação Modular. Principalmente por que o governo federal, por causa do programa Minha Casa, Minha Vida, passou a estimular um marco regulatório dentro da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) para a construção civil. Neste marco, a Coordenação Modular é destaque, como revela Sérgio Scheer, professor do Departamento de Construção Civil da UFPR (Universidade Federal do Paraná).
Segundo ele, o estímulo governamental fez surgir ações orquestradas em diversos níveis, reunindo poder público, universo acadêmico e setor produtivo, que resultara em uma sinergia interessante favorável à Coordenação Modular. “A maturidade do mercado levou à percepção de que estas tecnologias têm resultados palpáveis, desde que implantadas em condições adequadas. Isso leva à capacitação da mão de obra e à melhoria dos insumos usados na construção civil”, resume Scheer.
O professor da UFPR lembra que uma das virtudes da Coordenação Modular é permitir a conectividade entre diversos componentes de um sistema construtivo. “O transporte, o armazenamento e a redução de resíduos de diversos materiais típicos dos canteiros de obras ficam facilitados com o sistema, e a ideia de construção enxuta e de processos racionalizados podem ser bem aproveitados”, explica Scheer, ressaltando que componentes com medidas padronizadas tornam a cadeia produtiva mais eficiente.
Preconceito
Nos anos 1970 e 1980, a Coordenação Modular carregou a fama indevida de ter sido o sistema que estimulou o surgimento dos chamados “pombais” – construções habitacionais financiadas pelo Banco Nacional de Habitação, que seguiam uma única estética, sem levar em consideração questões como funcionalidade, racionalidade e sustentabilidade. Isso gerou um preconceito contra a Coordenação Modular, que o próprio governo federal trata, agora, de combater através de incentivos financeiros.
Recentemente, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) criou uma linha de crédito de R$ 1 bilhão para contemplar a construção industrializada. No entender de Scheer, o estímulo pode levar as empresas a adotarem a norma de Coordenação Modular não apenas para o setor habitacional, mas para outros empreendimentos. “Um projeto modular racional pode ser aplicado em qualquer obra. Óbvio que não é a solução para tudo, mas desde que o projeto tenha qualidade ele pode se encaixar em qualquer tipo de construção”, avalia, sinalizando que a Coordenação Modular voltou com força, e desta vez para ficar.
Entrevistado
Sérgio Scheer
Currículo
Sérgio Scheer é doutor em Informática (Computação Gráfica) pela PUC-RJ, mestre em Engenharia de Estruturas pela UFRGS e Engenheiro Civil pela UFPR. É também professor associado I do Departamento de Construção Civil (DCC) do Setor de Tecnologia da UFPR, diretor do CESEC / UFPR (Centro de Estudos de Engenharia Civil Professor Inaldo Ayres Vieira), Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Métodos Numéricos em Engenharia da UFPR e Bolsista Produtividade do CNPq nível 2, além de membro do Working Commission 6, Information Technology (WC6) da IABSE (International Association for Bridge and Structures Engineering).
Contato: scheer@ufpr.br
Créditos da foto:
Divulgação/Joka Madruga
Elza Fiuza/ABr