Choque conceitual Equipes propuseram soluções técnicas e mudanças de equipamentos, sem interferir no leiaute

Choque conceitual Equipes propuseram soluções técnicas e mudanças de equipamentos, sem interferir no leiaute

Choque conceitual Equipes propuseram soluções técnicas e mudanças de equipamentos, sem interferir no leiaute
 

Humberto Siqueira - Estado de Minas

 

Edifício na Alameda Santos, em São Paulo, antes da reforma. Projeto do arquiteto Rino Levi (Otec/Divulgação)  
Edifício na Alameda Santos, em São Paulo, antes da reforma. Projeto do arquiteto Rino Levi

Que tal derrubar a conta de energia elétrica de R$ 500 mil para R$ 205 mil por ano? Essa pergunta prende a atenção até dos mais resistentes. E não é promessa de político. A arquiteta e professora da Escola de Arquitetura da UFMG Iraci Miranda Pereira, doutora em engenharia de energia, comprovou que é possível reduzir o consumo em 57% no verão, 62% no inverno e uma média geral de 59%.

Ela e a equipe, formada pelas mestrandas Ana Carolina Veloso, Paula Rocha Leite, Camila Carvalho Ferreira, Marcela Alvares Maciel e a graduanda Carla Patrícia Soares faturaram o primeiro lugar no concurso realizado pela Otec, empresa de consultoria em sustentabilidade e eficiência energética. Para a disputa, que contou com 50 equipes, foi escolhido um edifício na Alameda Santos, uma região de interesse histórico de São Paulo. O projeto original é modernista e de autoria do arquiteto Rino Levi.

Todos os concorrentes receberam o modelo virtual do prédio. O concurso de Eficiência Energética em Edifícios Existentes, como diz o nome, teve como principal quesito a redução do consumo de energia. Mas não bastava propor, era preciso provar que as soluções eram aplicáveis e realmente eficientes. Para tanto, poderiam recorrer a softwares específicos de simulação e tecnologia, que garantem alto índice de fidelidade à realidade.

Segundo Iraci, “as equipes poderiam propor soluções técnicas e mudanças de alguns equipamentos. Por outro lado, não poderiam interferir no leiaute das salas nem nos equipamentos de uso pessoal, como computadores. E alguns pontos que geram redução de energia, como a própria economia de água, já que a bomba será menos requisitada, não seriam levados em consideração pelo software”, explica. O mesmo programa é utilizado nas avaliações de algumas certificações de sustentabilidade, como o Leed.

Perspectiva do prédio depois da proposta de intervenção apresentada pela equipe vencedora (Otec/Divulgação)  
Perspectiva do prédio depois da proposta de intervenção apresentada pela equipe vencedora
As equipes tiveram pouco mais de dois meses para apresentar suas propostas. “Tivemos uma preocupação muito grande em não descaracterizar a obra de Rino Levi, que está inserida num contexto histórico. E isso acabou se tornando um importante diferencial para vencer o concurso”, pondera Ana Carolina.

COERÊNCIA

O prêmio foi entregue pelo arquiteto norte-americano Michael Holtz, titular da consultoria Architectural Energy Corporation, e por David Douek, diretor da Otec. Segundo David, “coerência talvez seja a palavra-chave do projeto vencedor. Os resultados são tangíveis e os projetos entregues provaram sermos capazes de incluir em nossas decisões estratégias para melhorar o desempenho de nossas edificações”.

Segundo Maria Akutsu, física responsável pelo Laboratório de Conforto Ambiental e Sustentabilidade de Edifícios do Centro Tecnológico do Ambiente Construído do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, o concurso tem como ponto alto a viabilidade técnica, o respeito ao projeto original e a correta comprovação da redução do consumo energético por meio do modelo de simulação computacional. “O projeto vencedor é consistente e de real viabilidade técnica, ou seja, ao ser executado vai cumprir o que promete. A eficiência energética fica assegurada ao propor, entre outros recursos, o sombreamento da fachada envidraçada com brises, num desenho bem adequado. Além disso, tem uma linguagem arquitetônica bonita e limpa”, elogia.