As obras de Oscar Niemeyer em Belo Horizonte

13-01-2011 15:36

 

As obras de Oscar Niemeyer em Belo Horizonte

fazer um comentário »

mdc 02

Danilo Matoso Macedo

[Ler o artigo em PDF]

   (…)procuro orientar meus projetos, caracterizando-os sempre que possível pela própria estrutura. Nunca baseada nas imposições radicais do funcionalismo, mas sim, na procura de soluções novas e variadas, se possível lógicas dentro do sistema estático. E isso, sem temer as contradições de forma com a técnica e a função, certo de que permanecem, unicamente, as soluções belas, inesperadas e harmoniosas. Com esse objetivo, aceito todos os artifícios, todos os compromissos, convicto de que a arquitetura não constitui uma simples questão de engenharia, mas uma manifestação do espírito, da imaginação e da poesia. [2]

É costume da historiografia, e do próprio Oscar Niemeyer, dividir a sua produção entre as obras que vão de Pampulha a Brasília como um primeiro período, e a produção posterior à da capital como um segundo. Cabe aqui, entretanto, estabelecer naquele alguma divisão que lhe desvele as nuances. Afinal, a produção do arquiteto inicia-se em 1935 – ano de sua graduação pela Escola Nacional de Belas-Artes –, e certamente suas obras dos anos 1950 guardam algumas diferenças em relação às dos anos 1940. Ou seja: nem suas obras iniciam-se em Pampulha, em 1941, nem esteve inerte o pensamento do arquiteto ao longo de quinze anos de trabalho.

Seus primeiros trabalhos, de 1935 e 1936 – anteriores ao contato pessoal com Le Corbusier – caracterizam-se precisamente por uma leitura habilidosa, mas ainda restrita, dos princípios do mestre suíço, concretizadas na Obra do Berço (1935), e apenas projetadas na Residência Henrique Xavier (1936) e na Residência Oswald de Andrade (1936). Vê-se ali não apenas a expressão clara do esqueleto independente de concreto armado deslocado dos fechamentos – agora envidraçados – como o uso de terraço jardim, janelas em fita e mesmo das mediterrâneas abóbadas das Maisons Jaoul (1919) e do impluvium da Residência Errazuriz, no Chile (1930).

Noutra via, Oscar vinha desenvolvendo em seus projetos de 1936 a 1943 um pensamento de cunho nativista que o leva a articular telhados cerâmicos, muxarabis e generosos avarandados [3], devidamente codificados pelas interpretações modernas que Lúcio Costa vinha dando a estes elementos não apenas em projetos como a Vila Operária de Monlevade (1934), como também em seus textos – Razões da nova arquitetura (1934) eDocumentação Necessária (1938) [4].

A estas leituras some-se o contato direto com Le Corbusier e a condução das obras do Ministério da Educação e Saúde Pública – MESP – pelo próprio Oscar [5], concluídas apenas em 1945 e simultâneas à construção da Pampulha. Deve-se ainda ao europeu a sugestão do uso de azulejaria de feição portuguesa e da modenatura em granito definindo os volumes [6] .
Há razões, assim, para que consideremos as obras da Pampulha não como o início efetivo da obra de Niemeyer – conforme ele próprio afirma recorrentemente [7] –, mas como a confluência de ao menos duas linhas de atuação que o arquiteto vinha desenvolvendo ao longo de oito anos. É ainda sua primeira contribuição individual relevante articulando o léxico desenvolvido pelo grupo a cargo da construção do MESP.

A produção arquitetônica de Oscar Niemeyer em Belo Horizonte sempre esteve, direta ou indiretamente, ligada à figura política de Juscelino Kubitschek. E se podemos agrupar este conjunto de obras em períodos determinados, eles correspondem precisamente aos mandatos do político como prefeito da capital (1940-1945) – indicado por Benedito Valadares – e como governador eleito do estado de Minas Gerais (1951-1955).

O primeiro grupo de obras, centralizadas sobretudo no Conjunto da Pampulha, contribuiu para a definição de uma linguagem arquitetônica que viria a ser conhecida internacionalmente como “Estilo Brasileiro” [8] . O segundo grupo de obras viria a constituir a manifestação mais madura e depurada deste vocabulário, dando mostras de um encaminhamento do pensa­mento do arquiteto rumo ao que viria a ser uma mudança radical em sua prática ocorrida a partir da segunda metade dos anos 1950, com o projeto para o Museu de Caracas (1955) e com as obras de Brasília (1955-1960).

LER ARQUIVO TODO

[Ler o artigo em PDF

Danilo matoso macedo (1974)
Formado em Arquitetura e Urbanismo (UFMG, 1997), Mestre em Arquitetura e Urbanismo (UFMG, 2002), Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental (ENAP, 2004). Foi professor de projeto arquitetônico na Escola de Arquitetura da UFMG (2003) e no Curso de Arquitetura e Urbanismo do UniCEUB – Brasília (2003-2005). É Arquiteto da Câmara dos Deputados desde 2004. Participa de concursos nacionais e internacionais, tendo recebido premiações em diversos deles. Possui escritório próprio desde 1996

contato: correio@danilo.arq.br | www.danilo.arq.br